EDITORIAL DO ENCARTE

 

Esta revista traz como tema de discusso o novo empreendimento Maharishi SP Tower

proposto para a cidade de So Paulo. Diante da polmica que se formou e da cobertura

superficial da imprensa, a Caramelo amplia o debate trazendo a opinio de profissionais

ligados ao assunto e da sociedade civil. Acreditamos que, por trs dos vrios aspectos que

a possibilidade de construo deste edifcio envolve, existe um carter reincidente de muitos

momentos das transformaes urbanas de So Paulo e que compete ao espectro mais amplo

de agentes da cidade discutir. Ainda que haja necessidade de reurbanizao da rea em questo,

ainda que fosse um projeto de edifcio que correspondesse a nossa identidade cultural e que

houvesse transparncia nos processos de legalizao e emprego dos recursos pblicos, permanece

uma questo: este o modelo que queremos? Um modelo que, mais uma vez por interesse exclusivo

da iniciativa privada, se impe alterando toda a escala de um trecho urbano e toda a ordem de

prioridade da cidade. Queremos apresentar as questes sobre estes processos de transformao

da cidade e promover o debate antes que qualquer resposta legal efetiva seja dada a este episdio.

O que mais impressiona que uma proposta deste porte traz riscos no s para a cidade, mas inclusive

para o investidor. Por que um grupo investiria uma soma to alta de dinheiro em um nico empreendimento,

indivisvel, sem ter garantia clara de retorno? Resta saber o que de fato est impulsionando este projeto.

Desta forma, este edifcio vem representar e simbolizar, com uma visibilidade brutal, um estado de falncia

geral: na ausncia de gesto urbana, na ausncia de posicionamento e questionamento por parte da

sociedade civil, e na inadequao e desperdcio da contribuio dos profissionais que lidam com a cidade,

que poderiam, como classe organizada, propor e questionar os termos mais bsicos colocados pelos

empreendedores. Deliberadamente, a Caramelo vem dizer no a este processo de fazer cidade e a um

edifcio, curiosamente oco de sentidos, que pode simbolizar a vergonha de sermos um pas incompetente.

 

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