Hospital do Aparelho Locomotor de Fortaleza, CE
Coordenao Geral: Joo filgueiras Lima Gerncia do Projeto: Haroldo Pinheiro Vilar de Queiroz Gerncia de Obras: Jurandir Fermon Ribeiro Estrutura: Ernesto Tarnoczy, Paulo Roberto A Freitas, Luculio A Vitorino Instalaes: Eustquio Ribeiro, Kouzo Nishiguti Arquiteto da Obra: Eliane Terra Paisagismo: Alda Rabello Cunha, Beatriz Secco Integrao das Obras de Arte: Athos Bulco Produo industrializada: Ana Amlia Monteiro (projetos), Waldir Silveira Almeida(metalurgia), Frederico Souza Aguiar de Carvalho (argamassa armada).
Fotos: Celso Brando, Eliane Terra, Esequias Freitas, Luberto Moreira

Texto: André Augusto de Almeida Alves

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Originária da atuação da Fundação das Pioneiras Sociais em Brasília, a Rede Sarah de Hospitais do Aparelho Locomotor surgiu em 1974 como resposta à demanda por uma estrutura especializada no tratamento de enfermidades do aparelho locomotor, sendo concebida como um subsistema de saúde de alcance nacional cujo centro de referência se localizaria em Brasília. O embrião deste subsistema, segundo seus preceptores - entre eles o cirurgião Aloysio Campos da Paz Júnior e o arquiteto João Filgueiras Lima - seria inicialmente o Centro de Reabilitação Sarah Kubitschek, construído em 1960 pela Fundação e que indesejadamente se afastava cada vez mais de sua proposta inicial, transformando-se gradualmente em um hospital ortopédico.
Assim se deu a construção do Hospital do Aparelho Locomotor de Brasília, concluída em 1980, no qual já eram aplicados os conceitos que norteiam até hoje o funcionamento da rede, e que continuam a fazer dela um exemplo bem sucedido de serviço de saúde, tanto do ponto de vista arquitetônico quanto do terapêutico ou de gestão.


outros hospitais da rede Sarah

A ampliação da rede, no entanto, se deu somente a partir de 1987. Da atuação de Lelé junto à fábrica de pré-moldados leves de argamassa armada da prefeitura de Salvador resultou um convênio entre esta e a Rede Sarah, visando o desenvolvimento de projetos de edifícios industrializados para a expansão da rede. Três projetos foram elaborados então, para as cidades de Curitiba, São Luis e Salvador. Somente este último foi executado, tendo sido necessária a revisão de seu projeto, após a desativação da fábrica de Salvador. Este fato, porém, não foi suficiente para impedir o pleno êxito do empreendimento, que teve grande repercussão nos meios de comunicação.
O Hospital do Aparelho Locomotor de Salvador, concluído em 1994, foi o primeiro a ser construído por administração direta pela agora chamada Associação das Pioneiras Sociais, a partir do contrato de gestão firmado com o governo federal em 1991. Tal contrato possibilitou ainda a incorporação do hospital de São Luis - cujo projeto havia sido retomado pelo governo estadual, resultando numa obra portadora de muitas deficiências - e sua posterior recuperação. Ainda por volta de 1995, a implantação da unidade de Belo Horizonte, a partir da reestruturação de um edifício hospitalar preexistente, constituiu meta prioritária para a consolidação do subsistema de saúde proposto pela Associação das Pioneiras Sociais.

O Hospital do Aparelho Locomotor de Fortaleza, inaugurado em 1999, constitui o desdobramento mais recente deste processo de trabalho de mais de 20 anos.
Apesar da área do terreno permitir a implantação do modelo horizontal concebido já na época da construção do 1o hospital da rede, mas adotado somente em Salvador - o caráter urbano do terreno de Brasília ditava uma solução vertical - no caso de Fortaleza preferiu-se uma solução mista. Assim, a verticalização do setor de internação possibilitou a preservação da área arborizada que ocupa mais de um terço do lote, onde foram implantadas a residência médica, a creche e a escola de excepcionais.


pavimento térreo / subsolo

As demais áreas do hospital foram mantidas no pavimento térreo e, a exemplo do hospital de Salvador, são ventiladas naturalmente por dois sistemas: o de convecção e o de ventilação cruzada por ambiente. No primeiro, o ar é resfriado e purificado por espelhos d'água e jatos de água pulverizada antes de ser colhido por galerias posicionadas em sentido oposto ao dos ventos dominantes, e por elas conduzido até as aberturas existentes no piso, junto aos pilares. O ar é então extraído por sucção, por sheds posicionados a favor do vento. No segundo, as aberturas dos sheds são voltados para direções opostas.
Tal sistema de ventilação, além de propiciar a mobilidade necessária à aplicação das técnicas de tratamento da Rede Sarah - como o Progressive Care, no qual o paciente é transferido para locais com recursos específicos de tratamento de acordo com a evolução de seu quadro clínico -, minimiza o consumo de energia e ainda cumpre importante papel no combate às infecções hospitalares, ao substituir os fluxos de ar horizontais por fluxos verticais e propiciar, pelos sheds, a insolação controlada dos ambientes. As galerias são visitáveis, o que possibilita a sua limpeza - evitando-se a proliferação de microorganismos nocivos à saúde - e a visitação das instalações elétricas, hidráulicas, sanitárias, etc.

A disposição das enfermarias é similar à do hospital de Salvador, apresentando, no entanto, um sistema de dupla circulação, que segrega o trânsito de visitantes do de serviço. As circulações localizam-se ao longo das duas fachadas do bloco de internação. Alinhadas à circulação de visitantes estão os solários, que são utilizados pelos pacientes diariamente; junto à circulação de serviço estão as salas de gesso e tratamento. No último andar, cada apartamento tem uma varanda própria.


4o, 5o e 6o pavimentos (enfermarias) 7o pavimento (apartamentos)

A fachada do bloco de internação que se volta para o quadrante norte é protegida da insolação por uma cobertura metálica em arco, que abriga o jardim em dois níveis e integra visualmente o conjunto dos espaços internos do hospital: em elevação, o próprio setor de internação, no térreo, a entrada principal, o setor de internação e alta, de fisioterapia e os demais serviços, por fim, no subsolo, a administração.
Os projetos do Hospital do Aparelho Locomotor de Fortaleza, do Centro Internacional de Formação e Treinamento em Reabilitação - em construção, no Lago Norte de Brasília - e dos hospitais de Recife e Natal, foram os últimos que contaram com a participação de Lelé: no início do ano, o arquiteto se afastou da Rede Sarah, dadas as dificuldades que ela vem enfrentando para manter suas atividades, dificuldades estas relacionadas à postura do governo federal frente à instituição.
Esperamos, no entanto, que este não seja um capítulo superado da arquitetura brasileira recente.

 

Legenda das plantas:
1 ponto de ônibus
2 estacionamento
3 estacionamento do pessoal
4 lago
5 espera do ambulatório
6 hall de visitantes
7 hall de serviço
8 setor de internação e alta
9 fisioterapia
10 ambulatório
11 oficina de ortopedia
12 raio X
13 vestiários
14 1o estágio
15 centro cirúrgico
16 CPD
17 laboratório
18 biblioteca
19 centro comunitário
20 auditório
21 residência médica
22 escola de excepcionais
23 creche
24 pátio de serviço
25 caldeiras
26 refeitório
27 cozinha
28 lavanderia
29 farmácia
30 almoxarifado
31 manutenção
32 caixa d’água
33 central de ar comprimido
34 subestação elétrica
35 central de material
36 central de ar condicionado
37 tratamento e expurgo
38 gesso

 

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