CRTS - Centro deTecnologia da Rede Sarah
Luiz Carlos Chichierchio


CRTS
Centro deTecnologia da Rede Sarah
Arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé)
Brasília : SarahLetras;
São Paulo : Fundação Bienal/ProEditores, 1999


Luiz Carlos Chichierchio é arquiteto, professor da FAU-PUC de Campinas e diretor da Ambiental.

A leitura da publicação do CRTS - Centro de Tecnologia da Rede Sarah, com projetos do Arquiteto João Filgueiras Lima (o Lelé) nos anima e conduz a uma série de conclusões que considero importantes tendo em conta o momento e o estágio em que se encontra (não diria a arquitetura) mas a indústria da construção no Brasil.

O comportamento equivocado de alguns profissionais e o analfabetismo arquitetônico que assola em geral permitiram a cristalização de algumas afirmações preconceituosas que enormes prejuizos tem trazido para a aceitação, pelo público em geral, do trabalho do arquiteto, considerando as obras ditas "de cunho utilitário".

Dentre as barbaridades consagradas podemos destacar algumas tais como :

1) Que a "beleza" arquitetônica é incompatível com a 
construção industrializada.

2) Que a "boa" arquitetura só é feita com alguns materiais 
eleitos pela preferência e pela tradição.

3) Que o bom desempenho funcional é incompatível com a beleza.

Junte-se a essas barbaridades antigas outras mais atuais resultantes da má compreensão dos avanços tecnológicos.

O desenvolvimento da indústria eletrônica e da informática permitiu a popularização dos computadores e a ignorância do que essas máquinas podem fazer gera o mito segundo o qual elas permitem tudo. É a crença antiga no moto contínuo e na falácia da alquímia que os poucos 400 anos de ciência moderna não conseguiram banir das mentes retrógadas.

Dentre esses falsos mitos destacamos aqueles acobertados sob o título de "edifícios inteligentes" , que às vezes é empregado pela designar os edifícios que são dotados de sensores e comandos para detectar e corrigir as deficiências de um projeto de má qualidade.

Pois bem, estão aí nessa publicação vários projetos que destroem esses mitos e equívocos.

Lelé mostra, como fruto da sua competência, talento e domínio do ofício que o uso de elementos pré-moldados não impede que seus edifícios apresentem alta qualidade e expressão formal.

Ao utilizar um material pouco conhecido e em muitas situações mal empregado, como é o caso da argamassa armada, o autor mostra que os materiais somente apresentam propriedades físicas e químicas. Quem apresenta qualidades são os projetos, os arranjos competentes que permitem aproveitar as potencialidades dos materiais, trabalhando a favor delas e não contra elas.

O Lelé faz isso com maestria, demonstrando também que os edifícios podem e devem ser belos mesmo que não se destínem a ser monumentos comemorativos ou simbólicos por definição prévia.

Aliás a beleza associada à eficiência faz com que um objeto artificial (feito com a arte e o intelecto humano) se identifique com a naturalidade da flôr que reune tão bem essas qualidades.

Os objetos arquitetônicos que além de belos apresentam bom desempenho quanto ao uso e quanto ao controle dos fenômenos naturais se transformam em símbolos naturalmente. Símbolos da inteligência e da competência humana quando se empenha em fazer o melhor possível que está a seu alcance.

Lelé não camufla em seus desenhos as intenções, por exemplo de controle da ventilação e da insolação e da iluminação. Pelo contrário ressalta e distingüe esses controles. Nos auditórios estão evidentes as decisões de carácter acústico.

O uso de ar condicionado quando necessário, ocorre de maneira integrada e incorporada à linguagem formal do edifício e não de maneira postiça, como um adendo acrescentando a posteriori .

Não sei se Lelé gostaria de ouvir isso mas a sua obra, pelas qualidades de integridade, se afasta da realização tecnológica e se aproxima da criação científica muito mais próxima da criação artística que dela exala.

É muito animador ver um trabalho como este que deveria transforma-se em texto didático. Estar presente sob os olhos de todos que desejam apreender a profissão, o ofício de Arquiteto e principalmente de todos que se propõe a ensinar tal mister.

 
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