Biblioteca no centro de
Santana do Parnaíba Texto:André Augusto de Almeida Alves |
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Historicamente, a evolução urbana da cidade de São Paulo e sua região metropolitana caracterizou-se pela constante destruição e reconstrução de seu patrimônio arquitetônico. Benedito Lima de Toledo, em seu texto São Paulo, Três Cidades em um Século, explica-nos de maneira sintética e elucidativa tal fenômeno, comparando essa cidade a um palimpsesto, no qual textos são apagados para dar lugar a novos textos. Desse modelo de desenvolvimento resultou a não preservação não só dos ambientes urbanos produzidos em cada momento da vida da cidade - que constituiriam as mais valiosas lições de urbanismo - , mas também dos seus edifícios mais significativos, que foram em grande parte igualmente demolidos ou desfigurados. De qualquer forma, os exemplares restantes de tais edifícios encontram-se isolados, empobrecidos pela ausência de relação com o contexto urbano atual, e até mesmo anacrônicos. Por outro lado, nas regiões mais periféricas da metrópole, em localidades como São Miguel, São Roque, Itapecerica e Embu, localizam-se várias das mais importantes edificações coloniais paulistas remanescentes, tanto urbanas quanto rurais. Santana do Parnaíba é, dessas localidades, talvez a que tem a estrutura urbana mais preservada, sendo nela observáveis conceitos que caracterizam o urbanismo colonial brasileiro. O princípio adotado pelos autores do projeto da biblioteca de Santana do Parnaíba, assim, possui diversos méritos, que fazem deste trabalho uma importante contribuição para a discussão acerca da relação entre a arquitetura contemporânea e o patrimônio histórico edificado. Um projeto cuja beleza não encontra precedentes, dentro desta temática, pelo menos na arquitetura brasileira mais recente. Ao ser implantada em um desnível existente entre a Praça 14 de Novembro, contígua à Matriz, e o muro de arrimo centenário existente ao longo da rua Luiz do Vale, um espaço não ocupado e mesmo desprovido de maiores qualidades ambientais, a biblioteca não interfere nos edifícios existentes. Ao contrário, o edifício requalifica o sítio em que se insere, corrigindo, com a sua cobertura, o contorno da praça, que passa a ter um belvedere para Santana do Parnaíba e o rio Tietê. A biblioteca, assim, resulta
num volume semi-enterrado. No entanto, é
necessário frisar-se que tal solução
nada tem a ver com os recorrentes "anexos enterrados",
normalmente a primeira imagem a surgir quando se trata de
projetar junto a prédios históricos. O acesso
à biblioteca se faz ao longo da Rua Luiz do Vale,
onde o muro de arrimo, testemunho da técnica de
cantaria ali praticada no passado, ao mesmo tempo que
é valorizado, contribui para a
construção de espaços de
transição entre o interior e o exterior da
biblioteca, além de tornar mais sutil a
relação entre ela e os edifícios
vizinhos, especialmente do ponto de vista construtivo.
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