Vitra Design Complex
Maurício Uieda Sobrinho

Maurício Uieda Sobrinho é aluno de graduação da FAUUSP

No início da década de 80, após um grande incêndio que destruiu boa parte de suas instalações, a indústria de móveis Vitra encarregou o arquiteto britânico Nicholas Grimshaw de desenvolver um plano geral para o complexo e novos edifícios industriais. Mas com a entrada de Rolf Fehlbaum na diretoria da empresa, novas diretrizes foram traçadas e com elas, novas propostas para a arquitetura de seus edifícios.

O novo diretor propunha novas relações entre empregados, produtos e ambientes de trabalho. Para Fehlbaum, uma boa interação entre eles resultaria em qualidade, adjetivo muito recorrente quando se pensa em Vitra Design.
As novas tecnologias e técnicas, o novo modo de relação entre operário e produto e, principalmente, as novas demandas espaciais deveriam ser refletidas não somente nos seus produtos, mas também na imagem da empresa no mercado, o que incluiria seu edifícios.
Questões como contexto, diversidade e a relatividade do mundo atual passam a acompanhar todos os edifícios construídos a partir de 1989.
Para a tarefa, foram chamados arquitetos de importância global:
Tadao Ando, Zaha Hadid, Frank Gehry e o arquiteto português Álvaro Siza.


Hoje em dia, mais de 40.000 pessoas visitam anualmente as instalações do complexo Vitra. Isto mostra que esta nova postura trouxe conseqüências importantes na imagem institucional da empresa.
Uma outra questão ocorre ao se discutir o projetar para grandes empresas e corporações: o uso da arquitetura como elemento de identidade corporativa.
Pode-se encontrar projetos que se relacionam diretamente com o produto fabricado naquele espaço. Outros podem se configurar como suportes para a identidade corporativa; são edifícios padronizados, reproduzíveis, portanto, reconhecíveis como elementos complementares para a comunicação da empresa.
Entretanto o projeto de Vitra não segue um padrão uniformizante para as suas edificações. A diversidade, neste caso, é o elo que unifica as construções, e a sua materialidade/realização é a expressão da Imagem da empresa.
Ao se comparar a iniciativa de Rolf Fehlbaum com, por exemplo, a de Luciano Benetton, pode-se perceber que, apesar de aparentemente similares, partem de propostas completamente contrárias. No caso da Benetton, desenvolvido por Tadao Ando e, de uma forma mais prolongada, por Afra & Tobia Scarpa, as construções se conformam diferentemente de acordo com as demandas funcionais do espaço. Ou quando não funcional, no caso de Tadao Ando para o projeto Fabrica, na demanda intelectual, como o desenvolvimento de novas linguagens publicitárias, de experiências visuais e formais.
Desde as primeiras intervenções de Grimshaw no início da década de 80, a preocupação em refletir nos edifícios o mesmo esmero e tecnologia encontrados em seus produtos já estava presente. Com as intervenções ocorridas nos anos 90, acresceu-se a diversidade de novas idéias e novos modos de se pensar Design.
A perfeição da execução dos concretos aparentes nas obras de Hadid e Ando; a explosão sensorial e sensível na de Gehry e também na de Zaha Hadid; o cuidado com as funções e com o contexto, geográfico e histórico, no galpão industrial de Álvaro Siza não se relacionam somente com a situação presente da empresa. Se tornam, como os produtos Vitra, o próprio processo do Design.

Galpão industrial e Vitra Design Museum
Frank Gehry

Embora modestos em tamanho e em orçamento, estes dois projetos do arquiteto americano Frank Gehry possuem as principais questões arquitetônicas que permeiam toda sua obra.
No galpão industrial, Gehry dialoga com o edifício hi-tech contruído por Nicholas Grimshaw no início dos anos 80. Os volumes destacados dos elevadores forma incorporados pelo arquiteto americano, que os alocou próximos ao museu, criando um conjunto de formas e volumes independente dos próprios edifícios que os contém.
Mesmo sendo uma verdadeira explosão de formas e volumes geométricos, o Vitra Design Museum é um edifício de um único espaço, todavia fragmentado. O virtuosismo no tratamento das superfícies, metálicas e opacas, transparentes e translúcidas causa grande impacto no visitante.

 

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