Bem vindo à terra encantada da expo 98
Cid Blanco Júnior

Cid Blano Júnior é arquiteto recém-formado pela FAUUSP.

 

Em agosto de 1998 passei quinze dias na Universidade do Porto participando de um curso sobre a arquitetura do norte de Portugal, a arquitetura dos grandes arquitetos portugueses.

Vimos um pouco de tudo e ainda tivemos palestras com Álvaro Siza e Eduardo Souto Moura. Entretanto, o ponto alto do curso não era as palestras, mas sim, depois de ouvir de tudo um pouco sobre a história de Portugal, ir para Lisboa e curtir a última Exposição Universal do século, a Expo 98.

Numa visita anterior a Lisboa, dois anos antes, a cidade, que havia se transformado num grande canteiro de obras, já respirava a Expo 98. Os oceanos e a vida marinha eram assuntos de livros, revistas e programas de TV. Todos falavam dos maravilhosos projetos que estavam sendo realizados e de como a região de Moscavide/Sacavém, onde foram instalados os pavilhões, seria valorizada com tal empreendimento.

Quando cheguei em Lisboa desta vez, à noite, na nova estação, projeto de Santiago Calatrava, fiquei maravilhado e não pude deixar de pensar o que não ia ser o dia seguinte quando finalmente conheceria uma Exposição Universal. Nunca pude esquecer que o Palácio de Cristal de Paxton, construído para a primeira exposição, foi tema de minha primeira aula de história da arquitetura quando entrei na faculdade e de como as exposições eram importantes para trocas de experiências e informações.

O fracasso da última exposição em Sevilha havia sido uma preocupação para os organizadores da Expo 98, que diziam haver resolvido todos os problemas, inclusive tomando por base a bem sucedida reestruturação urbana de Barcelona decorrente das Olimpíadas.

Porém, nem tudo era como eu esperava, na verdade, não era como a maioria das pessoas com quem conversei depois esperava. Durante os três dias, quase inteiros, que estive na Expo 98, a sensação de que eu estava num grande parque de diversões era assutadora.

Tudo era um espetáculo, começando pelas filas intermináveis nos principais pavilhões. Os prédios e o espaço eram realmente maravilhosos, porém podia-se ficar até seis horas numa bicha, debaixo de um sol de 40 graus, para ficar 15 minutos num pavilhão cujo principal objetivo era divertir ou impressionar e não instruir ou instigar qualquer tipo de pensamento a respeito do tema da exposição. O maior exemplo disso era o Pavilhão da Realidade Virtual, que era uma versão melhorada do Cine 180 graus do nosso velho e conhecido Playcenter. Os demais pavilhões também se caracterizavam por atrações cujo tema sempre eram os oceanos, porém sempre ficavam a desejar no quesito conteúdo. Talvez eu estivesse esperando demais.

Os pavilhões dos países eram uma verdadeira luta por carimbos e por turistas. As crianças estavam desesperadas para carimbar seus passaportes e os organizadores doidos para chamar a atenção dos turistas para que esses fossem passar suas próximas férias em algum local paradisíaco que o país oferecesse.

Mas, aonde tinha ido parar a tal preocupação com os oceanos, tão aclamada como fonte de inspiração e discussão dessa exposição?

Bem, nem você descobriu, nem eu. Porém, como já dizia o poeta português, "tudo vale a pena se a alma não é pequena".

 

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