Territórios Imaginários - Renina Katz
Maria Bonomi


territórios imaginários - album 1983 litografia, crayon
36 x 38 cm

Renina, que bom que ainda és pelo absurdo: pelo absurdo de tanto amor à paisagem: por tão bem fixá-la em ti (em nós) ao captar as leis, esgotando toda sua intimidade temporal. Descrevendo com este teu desenho provocante, que diz e desdiz, nos traços acumulados ou desfeitos, carregados de prenúncios de luz (esta vem sempre através, de trás... é uma presença, nunca um foco; não sabemos de sua origem), seu gemido cristalino. Aparência de paisagem. O tempo da imagem em sua cristalização mutante. Visto de dentro. Sete instantâneos sucessivos. Necessários. Essencialmente da mesma paisagem? Talvez. Acontecendo porém em ti (em nós) de maneira diferente apenas no ritmo. A emoção da matéria fixada por tuas mãos. As cores inventadas coincidindo com a realidade. Infinitas arestas conduzindo o espaço. Os planos naturalistas são restituição ao teu corpo (ao nosso). Através de teu olhar, do teu tempo, da tua entrega ao surpreender na paisagem que se revela (para anunciar) o que esconde. A elaboração obsessiva de cada detalhe destes territórios imaginários confere à técnica escolhida um momento de vivência gráfica da mais alta qualidade. Esta tua percepção (poética) visual-visceral (do tema) nos torna sobreviventes de naufrágios bem-sucedidos: a escama é perfeita ao peixe... Se a relação tinta/papel, impressão/desenho, aqui se torna terra e vento, luz e nuvem, não é mera coincidência. Há em ti uma profunda fusão de sentir e saber que eclodiu nesta série de pequenas grandes litografias, paisagem da memória que se percebeu na dor da esfera...

Texto de 1983, que acompanha o album Territórios Imaginários.

 

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