Pavilhão do Parque Estadual de Ilhabela

Equipe:
Arquitetos: Marcos Acayaba e Francesco Santoro;
Estagiários: Mariana Nakiri, José Eduardo Baravelli, Henrique Bustamante;
Estrutura: Helio Olga de Souza Jr.
Instalações: Sandretec

texto:
André Augusto de Almeida Alves

 

 


clique nas imagens para uma versão ampliada

Os remanescentes da Mata Atlântica brasileira, declarados Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, ocupam hoje uma área correspondente a 8,81% da mata original. Segundo o levantamento mais recente feito pelo Inpe - Instituto de Pesquisas Aeroespaciais - e pela SOS Mata Atlântica, cerca de 10% desses remanescentes foram destruídos na primeira metade da década de 90.

O Estado de São Paulo é onde se localizam os maiores remanescentes contínuos da Mata Atlântica e ecossistemas associados. Dentre as iniciativas para a sua preservação, podemos citar a criação, em 1977, de parques estaduais como os da Serra do Mar e de Ilhabela, cidade situada na Ilha de São Sebastião, no litoral norte do Estado.

Por outro lado, São Paulo é o Estado mais populoso da Federação, e Ilhabela, juntamente com outras cidades dessa porção do litoral, tem tido sua vocação turística cada vez mais explorada nos últimos anos, sobretudo na forma de construção de casas de fim de semana. Este processo de expansão urbana advém da natural demanda de áreas de lazer por parte da população do Planalto, e na verdade é cíclico: o que estas cidades vivem hoje já fora vivido por Santos e, posteriormente, por Guarujá e outras cidades litorâneas. Garantir a sustentabilidade ecológica, econômica e social de tais aglomerações urbanas é um dos maiores desafios a serem enfrentados pelos projetos de preservação do meio ambiente e, de uma forma geral, pela sociedade, na ocupação de seu território.

Este é o contexto em que Marcos Acayaba desenvolve o presente projeto.

O Pavilhão do Parque Estadual de Ilhabela se localizará nos limites de uma área recentemente loteada da cidade, pela qual será acessado, e o primeiro de seus méritos é constituir-se tanto em equipamento urbano para a população de Ilhabela quanto em infra-estrutura para o parque estadual, estabelecer o diálogo entre a natureza e a cidade. Desse modo, a denominação de edifício-ponte dada pelos arquitetos à construção possui um sentido mais profundo que o inicial, de ligação entre a rua e o outeiro de onde se avista toda a cidade e o canal de São Sebastião. E mais uma vez, como percebemos tão claramente na residência Hélio Olga de Souza Jr., Marcos Acayaba prova o seu talento em extrair do sítio o elemento de grande significação do edifício.

As premissas que norteiam o desenvolvimento do projeto são a manutenção do perfil original do terreno e da integridade de sua cobertura vegetal, com a suspensão do volume construído, a racionalização do sistema construtivo e, consequentemente, do canteiro de obras, a confecção das peças estruturais em madeira de reflorestamento. São as mesmas premissas adotadas em projetos anteriores de Marcos Acayaba, que resultaram numa série de edifícios igualmente exemplares, educativos do ponto de vista ambiental.

A questão ambiental sempre esteve presente ao longo da arquitetura brasileira, desde os tempos coloniais, com os muxarabis, até os dias atuais, com as obras de arquitetos como Severiano Mário Porto e José Zanine Caldas, passando pelo edifício do Pedregulho, de Reidy. Nesse cenário, Marcos Acayaba destaca-se como um dos arquitetos brasileiros que mais proficuamente combinam natureza, tecnologia e poesia.

 

© ponto 1998 | www.ponto.org | 2 | extra | index | lista | cadastro | webmaster@ponto.org