A escola de arquitetura do Parque Modernista,
conversa com Álvaro Puntoni

Mauríco Imenes

Em 1996 a Universidade Braz Cubas, situada em Mogi das Cruzes, interrompe o processo iniciado em 1992 de reestruturação curricular do curso de arquitetura, proposto pelo arquiteto Ciro Pirondi.
Ao mesmo tempo, encerrava-se uma proposta de reestruturação e surgia a idéia de se criar uma escola nova. Ainda em 1996 alguns professores, entre eles os arquitetos Alvaro Puntoni, Anália Carvalho Amorim, André Herzog, Carlos Eduardo Warchavichk, Celso Pazzanese, Ciro Pirondi, Milton Braga, Sergio Sandler, o cineasta Tales Ab'Saber e os historiadores Pedro Puntoni e Sophia Telles, formaram um grupo de professores associados que darão corpo a um conjunto de idéias e criarão uma nova escola de arquitetura. E isto porque a escola ainda não está em vias de funcionar de fato.
Todas as implicações de se criar uma escola nova, as razões para querer criá-la e as dificuldades de se obter a sua aprovação junto ao MEC - Ministério da Educação e Cultura - fornecem questões para uma interessante discussão, aliás, extremamente pertinente no dia de hoje.
Colocamos a seguir algumas informações sobre a Escola de Arquitetura do Parque Modernista, obtidas numa conversa com o arquiteto e professor Álvaro Puntoni.

Sobre a experiência na Universidade Braz Cubas

O trabalho realizado na Faculdade de Arquitetura da Universidade Braz Cubas possibilitou a experiência de algumas idéias que norteiam o curso da nova escola.
A principal intervenção implementada foi a criação do curso integral. O curso matutino seria, se o trabalho tivesse continuidade, gradualmente substituído pelo curso de período integral, e o curso noturno foi mantido, porém, com a mesma estrutura proposta para o integral e com duração de seis anos. No entanto, o número de disciplinas foi sensivelmente reduzido, e o conteúdo de quinze matérias foi remanejado entre apenas cinco - projeto, urbanismo, historia, tecnologia e estudos sociais e ambientais. O curso passava assim a dar ênfase em projeto, assumindo a idéia da atividade de projeto como uma postura crítica, apoiado pelo conhecimento histórico e vinculado à tecnologia.
O vestibular também sofreu uma mudança e os professores participavam da seleção entrevistando os candidatos.
Sem dúvida alguma é muito mais fácil criar uma escola própria ao invés de se alterar uma proposta já estruturada. O novo programa de ensino e as propostas de mudança deveriam obter a aprovação de uma comissão de graduação. Evidentemente, a reestruturação causou alteração do conteúdo das disciplinas e da distribuição da carga horária entre os professores, o que provocou insatisfações e posicionamentos contrários às mudanças. A escola já constituía um grupo de pessoas, nem todas elas favoráveis à totalidade das mudanças propostas. Soma-se a isto a atividade mercantilista desta universidade que, com o argumento de sofrer um aumento na relação custo/benefícios e uma perda de concorrência por causa do curso integral - todas as escolas de arquitetura privadas oferecem apenas cursos de meio período - encerrou o processo de reestruturação, e as propostas implementadas foram todas invalidadas.

Criação de uma nova escola

Ainda em 1996 alguns professores que se desligaram da Braz Cubas, com o apoio da Fundação Vilanova Artigas e da Fundação Oscar Niemeyer, lançam a idéia de criarem uma escola nova. Apesar deste grupo já não ser exatamente aquele envolvido na reestruturação, muitos dos professores do corpo docente remontam àquela época.
O curso da nova escola basicamente retoma as mudanças pretendidas na Braz Cubas. Novamente o período integral entra em cena, e a escola admite este elemento como um pilar fundamental de sua estrutura ao constatar que a maior procura de candidatos é obtida pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, a FAUUSP, e que, a despeito de seu caráter público e sua gratuidade, isto representa o interesse dos candidatos por excelência de ensino e da disponibilidade de candidatos por freqüentarem cursos de caráter integral.
O curso é composto por cinco grupos de disciplinas básicas, em acordo com a portaria do MEC - Ministério da Educação e Cultura - número 1770/94, aplicados em todos os anos e que são: Projeto, Urbanismo, História, Tecnologia e Estudos Sociais e Ambientais. Os cinco anos que compõem o curso são divididos da seguinte forma:

1.o ano: BÁSICO - ano introdutório e formativo;
2.o ano: ESPECÍFICO - ano informativo;
3.o ano: FORMAÇÃO EXTERNA - ano desenvolvido fora da escola através de estágios e/ou cursos no exterior ou no próprio país, sob orientação e acompanhamento de um professor orientador;
4.o ano: SÍNTESE - ano de revisão e complementação;
5.o ano: PROJETO FINAL - ano dedicado ao desenvolvimento do Trabalho Final de Graduação.

A nova escola é uma sociedade civil denominada Associação de Ensino de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, de direito privado, sem fins lucrativos. Isto representa uma esperança de que a escola não tendo o objetivo primeiro de gerar lucro possa contribuir com a real e necessária função de formação de profissionais aptos a exercer sua cidadania através da sua profissão.

A avaliação do MEC

A avaliação do projeto da escola pelo MEC ainda está em andamento. O Ministério questiona a necessidade de se criar mais e mais escolas, sinal claro de que as escolas de nível superior existentes não satisfazem o perfil desejado. Neste sentido, o "provão" se coloca como um elemento necessário de avaliação não apenas do profissional mas, principalmente, da escola.
O edital do MEC coloca quatro tópicos que devem ser contemplados:

- detalhamento do curso;
- entidade mantenedora;
- espaço físico da escola;
- corpo docente

Quanto ao detalhamento do curso, cabe analisar se o curriculo mínimo estabelecido pelo MEC permite autonomia suficiente para a implementação de novas propostas ou se constitui simplesmente uma padronização de projetos.
Os principais problemas encontrados pelo MEC no projeto da nova escola referem-se à entidade mantenedora e ao espaço físico a ser ocupado. Neste momento o Ministério e a Escola permanecem em diálogo, porém sem perspectivas de solução a curto prazo.

A entidade mantenedora da escola

A Entidade Mantenedora é constituída pelo próprio corpo docente da escola. Este sistema de gestão pode ser muito interessante por causa do espaço de participação que cada professor, agente do processo educacional, tem dentro da associação.
O MEC tem dúvidas quanto a capacidade da Escola de obter recursos provenientes de um número estabelecido de quarenta alunos por turma, e exige um mínimo de oitenta. A diferença é estrutural; são duas concepções de ensino completamente distintas. É neste momento que se deve refletir sobre a autonomia dada à escola de se propor, se criar e existir.
Existe ainda a idéia não formalizada de obtenção de recursos através de patrocínios , financiamento de pesquisas e prestação de serviços de assistência técnica nas áreas da arquitetura e do urbanismo.

Quanto ao Parque Modernista

Os criadores da nova escola defendem a opinião de que uma escola de arquitetura deve ocupar o centro da cidade, como que pudesse alcançar a cidade inteira. Apesar disto, o lugar desejado para sediar a escola mesmo tendo ótima localização não é tão central assim. O Parque Modernista se tornou um elemento tão importante que até mesmo tem sugerido o seu nome para a nova escola, a Escola de Arquitetura do Parque Modernista , que guarda uma relação muito próxima com este período da história em função da ligação pessoal que cada um dos professores tem com o movimento moderno.
A escolha do Parque Modernista para abrigar a escola tem também o sentido de chamar a atenção para estudos e eventos, além de ser uma forma de divulgação.
A utilização do Parque, entretanto, é uma hipótese bastante improvável. A dificuldade é decorrente da desapropriação do imóvel pelo Estado que, por determinações legais, não pode ceder, emprestar ou alugar qualquer terreno de sua propriedade para o estabelecimento de uma iniciativa privada. A escola continua insistindo nesta questão e ainda não existe uma resolução final.
Este é o processo natural de obtenção de credenciamento de faculdades integradas, faculdades, institutos superiores ou escolas superiores. Neste processo de negociações a avaliação da escola é necessária sobretudo ao final do processo, no momento em que a escola existirá de fato, disponível aos alunos e futuros cidadãos.

 

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